A seguir, trecho do livro Água Viva, de Clarice Lispector.
E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calmo, alegre, plenitude sem fuminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesmo. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou preso dentro de mim. Já chamei pessoas próximas de amigo e descobri que não eram. Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim. Não me dêem fórmulas certas, porque eu não quero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentiras. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesmo, mas com certeza, não serei o mesmo para sempre. Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes, tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar!
Adoro Clarice Lispector!
ResponderExcluirClarice é o máximo, Dani! Clique sobre a foto da autora e você poderá ver sua entrevista no programa Panorama da TV Cultura, em 1977.
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